quinta-feira, 21 de agosto de 2014

SOBRE O MÉTODO HISTÓRICO NO TEATRO


                                                                Gilberto dos Santos Martins
                                                                     Ator, Professor e Mestrando em Artes-UFU

O método de pesquisa utilizado, “experimentado”, por Tânia Brandão na investigação de casos não pesquisados ou até mesmo esquecidos e suplantados no tempo, trazido do campo da História, por ora tem sido eficaz na construção da História do Teatro Brasileiro. A pesquisadora em sua introdução do livro “ Uma empresa e seus segredos: companhia Maria della Costa, apresenta dentro da historiografia, o método da História Oral para trazer à baila a discussão e a importância da Cia que por muito tempo adormeceu no esquecimento da história oficial do teatro nacional. Nos livros e revistas que tratam do cenário artístico e teatral brasileiro muito raro tem se falado dessa Companhia que, assim, como “nomes de grupo fortes” como: Os Comediante, Teatro Brasileiro de Comédia-TBC, Teatro do Estudante,  Grupo Arena e Oficina, imprimiu sua marca na modernização e profissionalização dos nossos palcos.
A companhia/empresa, não raro, representou um caso bastante difícil de desvendar e vir para o amplo campo de discussão dos estudiosos do teatro, pois, segundo Brandão (p.28), “o ponto de partida era o zero ou quase. Quando o projeto de pesquisa começou, não existia nenhum texto escrito sobre o movimento estudado”. O trabalho de pôr à vista de leitores a história do teatro no Brasil é sempre complexo, há uma enorme dificuldade em fixar no tempo e no espaço, vários eventos que serviram de base para que tenhamos esse sistema complexo de propostas estéticas, às vezes experimentais e às vezes, quase sempre, maduras. Quando os temos em mãos faz-se mister analisá-los com bastante atenção e cautela no sentido de depurá-los de opiniões pessoais corriqueiras,  parciais e até mesmo equivocadas.
 A escassez de material que comprovem atividades teatrais no passado tem feito os pesquisadores da área mergulhar em campos-áreas outros para, quem sabe, lançar mão de metodologias que alcancem informações que apenas os braços teatrais não têm extensão o suficiente para chegar. É louvável o interesse de dá as mãos a teóricos que não fazem parte do próprio limite de olhar para fugir de uma opinião unilateral em benefício de outra plurilateral. É assim que a pesquisadora Tânia Brandão tem feito, onde vai buscar na História Oral um fio para pensar o nosso teatro e mais, especificamente, a companhia Maria Della Costa. No que tange a técnica da História Oral, Portelli (1997) nos diz:
“A História Oral é uma metodologia de pesquisa voltada para o estudo do tempo presente e baseia-se na voz de testemunhas, com o objetivo de escutar e compreender o pensamento dos atores sociais que vão, ao narrar, construindo ao mesmo tempo a sua história pessoal e a da comunidade.” ( PORTELLI, 1997, p. 08)
Há um forte movimento que tem se estabelecido em demasia no interesse pelo teatro que se faz no hoje, em detrimento ao que ficou na história ou até mesmo apagado por alguma razão. É obvio que uma potencia não exime outra, não estamos aqui fazendo apologias apenas às pesquisas do ontem e esquecendo do hoje, pois o ontem só existe porque foi uma construção do hoje. Mas, o que fazer, pois, quando estamos interessados em uma pesquisa que não possui nenhum registro concreto de sua existência, apenas falas subjetivas? Caso que a autora ilustra com sua pesquisa da Cia Maria Della Costa. Onde os materiais pungentes e significantes não ultrapassam o campo da individualidade dos que puderam usufruir e dos que estiveram na posição de criadores no ato de sua efemeridade.
Conforme Brandão (2006, p.111) “a pesquisa teatral é sempre documental, nunca é monumental”. A afirmativa da autora é bastante relevante ao contexto da companhia Maria Della Costa, pois por mais que estejamos a nos rodear por uma pesquisa de algo que está visível, vivo e presente, a condição de efemeridade da obra ou do evento teatral levará o pesquisar a apenas registrar e para isso deverá ir em busca de marcas escritas, fotográficas, imagéticas para trazer a essência do que já se dissolveu no tempo;  o objeto não será, obviamente, reconstruído literalmente, por isso não monumental, somente acessado por vias de documentos.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Tania. Uma empresa e seus segredos: Companhia Maria Della Costa. São Paulo: Perspectiva; Rio de Janeiro: Petrobras, 2009.
METODOLOGIA DE PESQUISA EM ARTES CÊNICAS/ org. André Carreira [ et.al.].- Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006. (MEMÓRIA ABRACE; 9). p. 105-119.

PORTELLI, Alessandro. Tentando aprender um pouquinho. Algumas reflexões sobre a ética na História Oral. In: Ética e História. Projeto História. Revista do Programa de Estudos Pós-graduados em História e do Departamento de História da PUC-SP. São Paulo, Vol. 15, 1997, pp. 13-49.

0 comentários:

Postar um comentário

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

SOBRE O MÉTODO HISTÓRICO NO TEATRO

| |


                                                                Gilberto dos Santos Martins
                                                                     Ator, Professor e Mestrando em Artes-UFU

O método de pesquisa utilizado, “experimentado”, por Tânia Brandão na investigação de casos não pesquisados ou até mesmo esquecidos e suplantados no tempo, trazido do campo da História, por ora tem sido eficaz na construção da História do Teatro Brasileiro. A pesquisadora em sua introdução do livro “ Uma empresa e seus segredos: companhia Maria della Costa, apresenta dentro da historiografia, o método da História Oral para trazer à baila a discussão e a importância da Cia que por muito tempo adormeceu no esquecimento da história oficial do teatro nacional. Nos livros e revistas que tratam do cenário artístico e teatral brasileiro muito raro tem se falado dessa Companhia que, assim, como “nomes de grupo fortes” como: Os Comediante, Teatro Brasileiro de Comédia-TBC, Teatro do Estudante,  Grupo Arena e Oficina, imprimiu sua marca na modernização e profissionalização dos nossos palcos.
A companhia/empresa, não raro, representou um caso bastante difícil de desvendar e vir para o amplo campo de discussão dos estudiosos do teatro, pois, segundo Brandão (p.28), “o ponto de partida era o zero ou quase. Quando o projeto de pesquisa começou, não existia nenhum texto escrito sobre o movimento estudado”. O trabalho de pôr à vista de leitores a história do teatro no Brasil é sempre complexo, há uma enorme dificuldade em fixar no tempo e no espaço, vários eventos que serviram de base para que tenhamos esse sistema complexo de propostas estéticas, às vezes experimentais e às vezes, quase sempre, maduras. Quando os temos em mãos faz-se mister analisá-los com bastante atenção e cautela no sentido de depurá-los de opiniões pessoais corriqueiras,  parciais e até mesmo equivocadas.
 A escassez de material que comprovem atividades teatrais no passado tem feito os pesquisadores da área mergulhar em campos-áreas outros para, quem sabe, lançar mão de metodologias que alcancem informações que apenas os braços teatrais não têm extensão o suficiente para chegar. É louvável o interesse de dá as mãos a teóricos que não fazem parte do próprio limite de olhar para fugir de uma opinião unilateral em benefício de outra plurilateral. É assim que a pesquisadora Tânia Brandão tem feito, onde vai buscar na História Oral um fio para pensar o nosso teatro e mais, especificamente, a companhia Maria Della Costa. No que tange a técnica da História Oral, Portelli (1997) nos diz:
“A História Oral é uma metodologia de pesquisa voltada para o estudo do tempo presente e baseia-se na voz de testemunhas, com o objetivo de escutar e compreender o pensamento dos atores sociais que vão, ao narrar, construindo ao mesmo tempo a sua história pessoal e a da comunidade.” ( PORTELLI, 1997, p. 08)
Há um forte movimento que tem se estabelecido em demasia no interesse pelo teatro que se faz no hoje, em detrimento ao que ficou na história ou até mesmo apagado por alguma razão. É obvio que uma potencia não exime outra, não estamos aqui fazendo apologias apenas às pesquisas do ontem e esquecendo do hoje, pois o ontem só existe porque foi uma construção do hoje. Mas, o que fazer, pois, quando estamos interessados em uma pesquisa que não possui nenhum registro concreto de sua existência, apenas falas subjetivas? Caso que a autora ilustra com sua pesquisa da Cia Maria Della Costa. Onde os materiais pungentes e significantes não ultrapassam o campo da individualidade dos que puderam usufruir e dos que estiveram na posição de criadores no ato de sua efemeridade.
Conforme Brandão (2006, p.111) “a pesquisa teatral é sempre documental, nunca é monumental”. A afirmativa da autora é bastante relevante ao contexto da companhia Maria Della Costa, pois por mais que estejamos a nos rodear por uma pesquisa de algo que está visível, vivo e presente, a condição de efemeridade da obra ou do evento teatral levará o pesquisar a apenas registrar e para isso deverá ir em busca de marcas escritas, fotográficas, imagéticas para trazer a essência do que já se dissolveu no tempo;  o objeto não será, obviamente, reconstruído literalmente, por isso não monumental, somente acessado por vias de documentos.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Tania. Uma empresa e seus segredos: Companhia Maria Della Costa. São Paulo: Perspectiva; Rio de Janeiro: Petrobras, 2009.
METODOLOGIA DE PESQUISA EM ARTES CÊNICAS/ org. André Carreira [ et.al.].- Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006. (MEMÓRIA ABRACE; 9). p. 105-119.

PORTELLI, Alessandro. Tentando aprender um pouquinho. Algumas reflexões sobre a ética na História Oral. In: Ética e História. Projeto História. Revista do Programa de Estudos Pós-graduados em História e do Departamento de História da PUC-SP. São Paulo, Vol. 15, 1997, pp. 13-49.

0 comentários:

Postar um comentário

Conheça o Núcleo de Pesquisas Teatrais Rascunho

Com o objetivo de pensar, experimentar, pesquisar e produzir teatro criamos o Núcleo de Pesquisas Teatrais Rascunho. O Núcleo é formado por graduados, graduandos do curso de Licenciatura em Teatro e do Mestrado em Cultura e Sociedade da Universidade Federal do Maranhão. Criado em 2010 com o intuito de propagar de forma qualitativa os trabalhos dos pesquisadores que o compõem. "Rascunhando pensamentos estéticos & rabiscando as paisagens da cena contemporânea"

Elefantes

Elefantes
Dramaturgia Coletiva, apresentado em 2014, São Luís - MA

SiameSeS

SiameSeS
Texto de Zen Salles, apresentado em 2012, São Luís - MA

Primeiro Amor

Primeiro Amor
Texto de Samuel Beckett, apresentado em 2011, São Luís - MA

Esperando Godot

Esperando Godot
Texto de Samauel Beckett, apresentado em, São Luís - MA, 2010.

Lullaby: por quem choram as pedras

Lullaby: por quem choram as pedras
Texto de Aline Nascimento, apresentado em 2011, São Luís - MA.

O Homem do Cubo de Gelo

O Homem do Cubo de Gelo
Texto de Abimaelson Santos, apresentado em 2010, São Luís - MA.
Rascunho Produções Culturais. Tecnologia do Blogger.
 

Followers

 

Flickr Photostream

Templates by Nano Yulianto | CSS3 by David Walsh | Powered by {N}Code & Blogger